Histórico
Acredita-se que foi o bandeirante Antônio Dias o construtor da primitiva capela de taipa, logo no início da instalação do primeiro arraial, em 1699. Em 1707 já existia essa capela, a primitiva Matriz de Nossa Senhora da Conceição. Era a Matriz Velha da Conceição, muito maior do que sua contemporânea, a Matriz de Nossa Senhora do Pilar. Há documentos datados de 1727 e 1729, comprovando o enterramento de escravos. De acordo com a tradição as Matrizes estavam voltadas para a rua Direita que, ao contrário do que se pode pensar, é uma rua torta, é na realidade "direta". Atualmente a antiga rua Direita chama-se Bernardo de Vasconcellos. Em 1727, Manuel Francisco Lisboa é encarregado de elaborar o projeto da nova Matriz. Esta grande igreja é uma das mais importantes de Ouro Preto, não só pelas suas proporções, como pela sua qualidade arquitetônica, incluída ai a esplêndida ornamentação interior. A atribuição do projeto a Manuel Francisco Lisboa baseia-se principalmente na "Memória que se lê no respectivo livro de registro de fatos notáveis estabelecido pela ordem régia de 20 de julho de 1782", segundo Rodrigo José Ferreira Bretas - Traços Biográficos do Finado Antônio Francisco Lisboa, publicado pelo "Correio Oficial de Minas", em 1858, na Revista do Arquivo Público Mineiro, Vol. 1 em 1896 e nas Publicações do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional nº 15, Rio, 1951. A Memória acima referida é o depoimento do 2º Vereador do Senado da Câmara de Mariana, José Joaquim da Silva, contemporâneo da época das grandes construções em Ouro Preto. O depoimento do vereador, transcrito por Bretas, é confirmado pelos documentos que se vão descobrindo de modo que tanto Silva como Bretas tornam-se fontes fidedignas de informação. Manuel Francisco Lisboa, além de traçar o projeto, foi o arrematante das obras, e seu nome figura em pagamentos, feitos por diversos trabalhos até 1742. É de supor que, em meados do século XVIII, a igreja já estaria terminada, no que respeita as obras de alvenaria, cobertura, soalhos, forros, esquadrías, enfim os componentes arquitetônicos básicos.
Chafarizes
No período colonial o abastecimento de água sempre foi um problema, principalmente nas cidades mais importantes. Em regiões de serra como Minas, havia grande abundância de nascentes, de "olhos d'água" o que dava em algumas residências a facilidade do abastecimento doméstico. Mas, de modo geral, os governantes se preocuparam com o abastecimento público. Daí as fontes públicas, ou chafarizes, onde se vinham abastecer os escravos, com vasilhame que carregavam sobre as cabeças, segundo a antiga tradição portuguesa medieval: a água, canalizada para uma construção, distribuída por bicas ou carrancas, jorrando noite e dia e recolhidas num tanque. Serviam também como bebedouro de animais. Essas construções consistiam, geralmente, em composição arquitetônica, ao sabor da imaginação dos construtores, executadas em alvenaria de pedra, e por vezes assumindo proporções consideráveis. Eram localizadas nos pontos de maior aglomeração, dentro do espírito barroco da época. As cidades coloniais possuíam numerosos monumentos para esse fim, uma vez que não existia canalizações urbanas, nem para água nem para esgotos. O problema dos dejetos domésticos era resolvido pelos escravos, transportando na cabeça os barris ou "tigres", levados a despejar em sítios afastados. Voltando aos chafarizes, a água chegava a eles canalizada dos mananciais ora em telhas ajustadas, ora em alcatruzes, ou sejam, manilhas em pedra-sabão. Havia, ao todo, 18 chafarizes em Ouro Preto.
Chafariz da BarraChafariz da ColunaChafariz da Igreja de Antônio DiasChafariz da Praça TiradentesChafariz da Rua Barão de Ouro BrancoChafariz da Rua da GlóriaCahfariz da Rua das CabeçasChafariz da Rua das FloresChafariz das Águas FérreasChafariz das LagesChafariz do Alto das CabeçasChafariz do Alto da CruzChafariz do Largo de MaríliaChafariz do Largo Frei Vicente BotelhoChafariz do Passo de Antônio DiasChafariz do PilarChafariz do RosárioChafariz dos Contos
Pontes
A cidade de Ouro Preto está assentada nos contrafortes da vertente ocidental da Serra do Espinhaço, dominada pelo pico do Itacolomi. O recorte caprichoso e tumultuado das montanhas, combinado com uma topografia essencialmente "barroca", com largas ondulações, das quais emerge aqui e ali uma colina, propícia para pôr em destaque os monumentos, isolados ou em grupos. As encostas abrem-se em vincos profundos abertos na rocha colorida, cujos tons de ocre, rosa e cinza rasgam-se de sombras, interrompem-se com o verde gríseo da vegetação rasteira dominadas pelo azul do céu. É toda uma sinfonia cromática em tom menor, feita de melancolia e soberba. A cidade ocupa o fundo de quatro grandes vales, ligados por nove grandes pontes, que estabelecem ligação entre ruas íngremes e ondulantes, esposando a topografia acidentada. Lembra as cidades do norte de Portugal, presas ao solo, vinculadas a ele e beirando sempre a água. Os rios serpeiam pelo vale, em curvas caprichosas. Outras onze pontes menores interligam o conjunto geral urbano. Os primitivos grupos de povoação foram descendo em direção aos rios, onde se ia batear o outro. Uma cruz ergue-se, via de regra, no meio das pontes e, em maio, um coro de devotos organiza o Ofício, da Santa Cruz, seguido de festas, com música, iluminação, fogos de artifício e... muito amendoim. Como participam do festejo os vendedores dos grãozinhos torrados, os estudantes, irreverentes, deram-lhe o nome de Festa do Amendoim. Essa tradição, pouco a pouco vai desaparecendo. O local escolhido é a ponte de Antônio Dias e a data habitual é 3 de maio. As pontes de Ouro Preto foram solidamente construídas por homens que traziam de Portugal as velhas tradições do "pontifix" romano. Os grandes arcos de alvenaria de pedra cuidadosamente argamassada e impermeabilizada com breu, galgam o vinco profundo de rios e torrentes, permitindo a livre circulação por toda a cidade. Sempre elevadas, essas pontes são protegidas contra as cheias e assentadas em sólidos e profundos alicerces. São também sítio de repouso, devaneio e namoro, providas de bancos e, como geralmente dominam um vale, entre construções, fornecem aos artistas um local panorâmico, propício a plantar o cavalete, ao turista para fazer uma fotografia, ao poeta para debruçar-se e sonhar ao marulho das águas, o que nem sempre é possível, pois o rio secou.
Ponte da BarraPonte do Antônio DiasPonte do FunilPonte do Padre FariaPonte do Palácio VelhoPonte do PilarPonte do RosárioPonte dos ContosPonte Seca
Acredita-se que foi o bandeirante Antônio Dias o construtor da primitiva capela de taipa, logo no início da instalação do primeiro arraial, em 1699. Em 1707 já existia essa capela, a primitiva Matriz de Nossa Senhora da Conceição. Era a Matriz Velha da Conceição, muito maior do que sua contemporânea, a Matriz de Nossa Senhora do Pilar. Há documentos datados de 1727 e 1729, comprovando o enterramento de escravos. De acordo com a tradição as Matrizes estavam voltadas para a rua Direita que, ao contrário do que se pode pensar, é uma rua torta, é na realidade "direta". Atualmente a antiga rua Direita chama-se Bernardo de Vasconcellos. Em 1727, Manuel Francisco Lisboa é encarregado de elaborar o projeto da nova Matriz. Esta grande igreja é uma das mais importantes de Ouro Preto, não só pelas suas proporções, como pela sua qualidade arquitetônica, incluída ai a esplêndida ornamentação interior. A atribuição do projeto a Manuel Francisco Lisboa baseia-se principalmente na "Memória que se lê no respectivo livro de registro de fatos notáveis estabelecido pela ordem régia de 20 de julho de 1782", segundo Rodrigo José Ferreira Bretas - Traços Biográficos do Finado Antônio Francisco Lisboa, publicado pelo "Correio Oficial de Minas", em 1858, na Revista do Arquivo Público Mineiro, Vol. 1 em 1896 e nas Publicações do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional nº 15, Rio, 1951. A Memória acima referida é o depoimento do 2º Vereador do Senado da Câmara de Mariana, José Joaquim da Silva, contemporâneo da época das grandes construções em Ouro Preto. O depoimento do vereador, transcrito por Bretas, é confirmado pelos documentos que se vão descobrindo de modo que tanto Silva como Bretas tornam-se fontes fidedignas de informação. Manuel Francisco Lisboa, além de traçar o projeto, foi o arrematante das obras, e seu nome figura em pagamentos, feitos por diversos trabalhos até 1742. É de supor que, em meados do século XVIII, a igreja já estaria terminada, no que respeita as obras de alvenaria, cobertura, soalhos, forros, esquadrías, enfim os componentes arquitetônicos básicos.
Durante todo o século XVIII e inicio do século XIX, estenderam-se os trabalhos relativos à ornamentação interior. Há pouca documentação com referência a esses trabalhos. Sabe-se com segurança que entre 1760 e 1765 Filipe Vieira, entalhador, foi pago por trabalhos de talha na capela-mor. Quanto à fachada, há notícia de que em 1794 já estaria arruinada, e que foi reconstruída no século XIX. Alguma influência neoclássica ter-se-á manifestado nessa reconstrução, mas não chegou a alterar substancialmente a obra original. Bazin é de opinião que o frontispício se teria tomado "uma evidente imitação neoclássica da igreja do Carmo da mesma cidade". Ora, o projeto do Carmo deve-se ao mesmo autor da Matriz de Antônio Dias: Manuel Francisco Lisboa. Nada mais natural que o autor tivesse utilizado, em 1766 (Carmo), o mesmo esquema de composição, inclusive o frontão e o arqueamento central do entablamento e até o medalhão linear traçado no corpo do frontão. Seja como for, não devemos lamentar as eventuais imperfeições da obra reconstruída, desde que não houve prejuízo da volumetria, nem perda da unidade. Em 1949 o então DPHAN (Departamento do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) iniciou a remoção da repintura dos elementos da nave, feita no século XIX, sem que tenha concluído esse trabalho. A partir de meados de 1980 o IEPHA-MG, realizou um trabalho considerável de conservação interessando diversas partes da obra, como telhado, forros, pisos, pintura, rede elétrica, rede hidráulica, inclusive chafarizes, entre outros serviços. Esse trabalho de capital importância interveio oportunamente, de vez que o monumento estava já em vias de deterioração, por simples abandono e incúria dos responsáveis. Entre outras glórias da Matriz de Antônio Dias está o fato de ter nascido, vivido, trabalhado e morrido na paróquia de Antônio Dias, o maior artista do Brasil: Antônio Francisco Lisboa. Tanto ele como seu pai, o arquiteto da Matriz, estão enterrados na velha e ilustre igreja de Nossa Senhora da Conceição de Antônio Dias. Permanecem, hoje ainda, resquícios da rivalidade entre as duas paróquias, a de Antônio Dias e a de Ouro Preto, na qual a Matriz é Nossa Senhora do Pilar. Rivalidade que remonta à luta entre Paulistas e Emboabas, brasileiros de Antônio Dias, a primeira fundação e portugueses do Pilar. A Matriz da Conceição permanece com os fumos e glórias do passado, um dos monumentos mais importantes do Brasil.
Descrição
A igreja localiza-se após uma longa descida, de quem vem da praça Tiradentes, pela antiga rua Direita. Chega-se pelos fundos do monumento, até chegar à fachada que é voltada para antiga região de lavras. Cercada por uma moldura de casas simples, já deixados para trás as casas fidalgas como a de Gonzaga. O casario baixo valoriza e dá escala monumental à massa imponente da Matriz. O acesso é limitado por uma grade de pouca altura, limitando o adro. A frontaria é a das grandes Matrizes mineiras, dividida em três corpos por cunhais e pilastras, de capitéis clássicos. A portada é bastante simples, em verga curva, com cimalha e duas pontas de volutas, entre as quais está um pequeno brasão imperial. De cada lado, como de costume, as duas janelas rasgadas ao nível do coro, com sacadas de ferro, e acima do brasão o óculo quadrilobado envidraçado. O grande entablamento, que corre ao longo do grande bloco que contém a nave, incurva-se sobre o óculo, continuando a mesma modenatura. Acima, levanta-se o frontão decorado com motivos curvilíneos, numa composição de curvas e contracurvas e duas pilastras; os elementos ornamentais são em estuque; o frontão é terminado por uma cornija reta encimada por dois coruchéus e a cruz com resplendor sobre pedestal baixo, apoiada sobre o crescente lunar, um dos símbolos da Imaculada. As duas torres prismáticas chanfreadas nos cantos contêm os sinos e são cobertas por cúpulas de alvenaria, terminadas por coruchéus. No corpo das torres, abaixo do entablamento, duas frestas alongadas iluminam, na torre do lado esquerdo, a escada de caracol e do lado direito o batistério. O longo bloco da construção, que ocupa uma área de cerca de 55,00 x 20,00m, divide-se em dois corpos: o da nave e o da capela-mor, corredores, sacristia, consistório. O primeiro é mais alto, e ambos cobertos por telhados de duas águas. Entremos agora, para contemplar o interior. A nave apresenta uma seqüência de oito altares e retábulos, além dos púlpitos e um revestimento de talha cobrindo as paredes. A entrada vê-se a pia de água benta, trabalhada em pedra-sabão; o batistério com grande pia de pedra e pintura representando o batismo de São João. O grande tapa-vento é de madeira, com tarja entalhada e vidros. O coro é suportado por colunas duplas e grande arco, fechado por grade de balaústres torneados em jacarandá, dando acesso às tribunas do corpo central (nave) em número de quatro de cada lado, em forma de sacadas fechadas por balaústres idênticos aos do coro. Há oito quadros oblongos, correspondendo aos altares. O teto é simples, com um grande lustre antigo, de cristal e mais nove menores, sendo que um pendendo da tarja situada na parte média do coro e os demais suspensos em suportes fixados na tarja de cada um dos retábulos. Há ainda outros menores, colocados no alto de cada tribuna. Quanto aos altares, no sentido da entrada: o primeiro à esquerda sob a invocação de São José com bela imagem do Santo e do Menino; a talha, como a dos outros altares, é extremamente rica, correspondendo à época de Dom João V, em pleno apogeu do barroco. O tratamento dos altares, retábulos, púlpitos, tribunas e do revestimento em geral é em branco e ouro, pintura e douramento a folha de ouro. O conjunto da talha da nave é ressaltado pelos retábulos, com a ornamentação fitomórfica, as colunas torsas, os baldaquins e sanefas, toda uma multidão de figuras de anjos, serafins.Ainda na seqüência dos altares, os seguintes são: o primeiro à direita, dedicado a Nossa Senhora da Boa Morte; é ao pé desse altar que está sepultado o Aleijadinho; o segundo altar à esquerda é dedicado a São Sebastião; o segundo altar à direita é dedicado a Nossa Senhora do Rosário; o terceiro altar à esquerda é dedicado a Santo Antônio; o terceiro à direita é dedicado a São Gonçalo; o quarto altar à esquerda é dedicado a Nossa Senhora Aparecida; o quarto altar à direita está sob a invocação das almas. O arco-cruzeiro é de cantaria, com capitel trabalhado, com frisos dourados e grande tarja entalhada, do Santíssimo Sacramento, com dois serafins. A capela-mor tem o teto ricamente moldurado e entalhado, com opulento medalhão central, no qual se desenvolve uma multidão de motivos ornamentais, entre os quais os feixes de trigo (o pão) e os túrgidos cachos de uva (o vinho), os símbolos da Eucaristia. Ao medalhão central associam-se os quatro evangelistas, obra de artista anônimo e nos quatro cantos extremos os Doutores da Igreja igualmente enquadrados em molduras trabalhadíssimas. As paredes da capela-mor são revestidas de talha e abertas de cada lado em três tribunas com balaustradas de jacarandá. O altar-mor é uma peça capital, tendo de cada lado do camarim os dois grandes nichos, encimados por três serafins acima dos seis esculpidos. As colunas torsas dos lados são enriquecidas com as "torsades" florais em ouro sobre o branco. O grande nicho contém o trono, em quatro ou cinco degraus móveis. Nesse pedestal de glória assenta-se a magnífica imagem de Nossa Senhora da Conceição, de tamanho natural, com coroa de prata e resplendor com 12 estrelas e uma pedra preciosa em cada. Nos nichos laterais as imagens de São João Nepomuceno, o mártir da Boêmia, assassinado pelo rei Vacslav IV no século XIV e que só foi canonizado no século XVIII por iniciativa dos jesuítas; e também a imagem de Santa Bárbara, a antiga mártir do século III, que, obrigada pelo cônsul Marciano a sair nua pelas ruas rogou a nação: "Senhor, Vós que cobris os céus de nuvens..." protetora das borrascas, das trovoadas, mas também padroeira dos pedreiros, dos artilheiros e dos mineiros. A tarja que encima o trono representa a Arca de Noé e a pomba da Paz, ladeada por dois serafins. O piso da capela-mor é um soalho de campas, e é relativamente recente a instalação de um pequeno museu, reunindo obras e peças relativas ao Aleijadinho, em local secundário da igreja. Em conclusão: a plenitude do barroco setecentista dá-nos talvez uma sensação de forças contraditórias, na grande e poderosa ilusão do Barroco. Lourival Gomes Machado, que escreveu páginas magistrais sobre o Barroco Mineiro, falou longamente sobre a igreja de Antônio Dias, exemplar de eleição disse: "Só se chega ao barroco mergulhando nele, ou melhor, deixando que ele submerja o espectador".
A igreja localiza-se após uma longa descida, de quem vem da praça Tiradentes, pela antiga rua Direita. Chega-se pelos fundos do monumento, até chegar à fachada que é voltada para antiga região de lavras. Cercada por uma moldura de casas simples, já deixados para trás as casas fidalgas como a de Gonzaga. O casario baixo valoriza e dá escala monumental à massa imponente da Matriz. O acesso é limitado por uma grade de pouca altura, limitando o adro. A frontaria é a das grandes Matrizes mineiras, dividida em três corpos por cunhais e pilastras, de capitéis clássicos. A portada é bastante simples, em verga curva, com cimalha e duas pontas de volutas, entre as quais está um pequeno brasão imperial. De cada lado, como de costume, as duas janelas rasgadas ao nível do coro, com sacadas de ferro, e acima do brasão o óculo quadrilobado envidraçado. O grande entablamento, que corre ao longo do grande bloco que contém a nave, incurva-se sobre o óculo, continuando a mesma modenatura. Acima, levanta-se o frontão decorado com motivos curvilíneos, numa composição de curvas e contracurvas e duas pilastras; os elementos ornamentais são em estuque; o frontão é terminado por uma cornija reta encimada por dois coruchéus e a cruz com resplendor sobre pedestal baixo, apoiada sobre o crescente lunar, um dos símbolos da Imaculada. As duas torres prismáticas chanfreadas nos cantos contêm os sinos e são cobertas por cúpulas de alvenaria, terminadas por coruchéus. No corpo das torres, abaixo do entablamento, duas frestas alongadas iluminam, na torre do lado esquerdo, a escada de caracol e do lado direito o batistério. O longo bloco da construção, que ocupa uma área de cerca de 55,00 x 20,00m, divide-se em dois corpos: o da nave e o da capela-mor, corredores, sacristia, consistório. O primeiro é mais alto, e ambos cobertos por telhados de duas águas. Entremos agora, para contemplar o interior. A nave apresenta uma seqüência de oito altares e retábulos, além dos púlpitos e um revestimento de talha cobrindo as paredes. A entrada vê-se a pia de água benta, trabalhada em pedra-sabão; o batistério com grande pia de pedra e pintura representando o batismo de São João. O grande tapa-vento é de madeira, com tarja entalhada e vidros. O coro é suportado por colunas duplas e grande arco, fechado por grade de balaústres torneados em jacarandá, dando acesso às tribunas do corpo central (nave) em número de quatro de cada lado, em forma de sacadas fechadas por balaústres idênticos aos do coro. Há oito quadros oblongos, correspondendo aos altares. O teto é simples, com um grande lustre antigo, de cristal e mais nove menores, sendo que um pendendo da tarja situada na parte média do coro e os demais suspensos em suportes fixados na tarja de cada um dos retábulos. Há ainda outros menores, colocados no alto de cada tribuna. Quanto aos altares, no sentido da entrada: o primeiro à esquerda sob a invocação de São José com bela imagem do Santo e do Menino; a talha, como a dos outros altares, é extremamente rica, correspondendo à época de Dom João V, em pleno apogeu do barroco. O tratamento dos altares, retábulos, púlpitos, tribunas e do revestimento em geral é em branco e ouro, pintura e douramento a folha de ouro. O conjunto da talha da nave é ressaltado pelos retábulos, com a ornamentação fitomórfica, as colunas torsas, os baldaquins e sanefas, toda uma multidão de figuras de anjos, serafins.Ainda na seqüência dos altares, os seguintes são: o primeiro à direita, dedicado a Nossa Senhora da Boa Morte; é ao pé desse altar que está sepultado o Aleijadinho; o segundo altar à esquerda é dedicado a São Sebastião; o segundo altar à direita é dedicado a Nossa Senhora do Rosário; o terceiro altar à esquerda é dedicado a Santo Antônio; o terceiro à direita é dedicado a São Gonçalo; o quarto altar à esquerda é dedicado a Nossa Senhora Aparecida; o quarto altar à direita está sob a invocação das almas. O arco-cruzeiro é de cantaria, com capitel trabalhado, com frisos dourados e grande tarja entalhada, do Santíssimo Sacramento, com dois serafins. A capela-mor tem o teto ricamente moldurado e entalhado, com opulento medalhão central, no qual se desenvolve uma multidão de motivos ornamentais, entre os quais os feixes de trigo (o pão) e os túrgidos cachos de uva (o vinho), os símbolos da Eucaristia. Ao medalhão central associam-se os quatro evangelistas, obra de artista anônimo e nos quatro cantos extremos os Doutores da Igreja igualmente enquadrados em molduras trabalhadíssimas. As paredes da capela-mor são revestidas de talha e abertas de cada lado em três tribunas com balaustradas de jacarandá. O altar-mor é uma peça capital, tendo de cada lado do camarim os dois grandes nichos, encimados por três serafins acima dos seis esculpidos. As colunas torsas dos lados são enriquecidas com as "torsades" florais em ouro sobre o branco. O grande nicho contém o trono, em quatro ou cinco degraus móveis. Nesse pedestal de glória assenta-se a magnífica imagem de Nossa Senhora da Conceição, de tamanho natural, com coroa de prata e resplendor com 12 estrelas e uma pedra preciosa em cada. Nos nichos laterais as imagens de São João Nepomuceno, o mártir da Boêmia, assassinado pelo rei Vacslav IV no século XIV e que só foi canonizado no século XVIII por iniciativa dos jesuítas; e também a imagem de Santa Bárbara, a antiga mártir do século III, que, obrigada pelo cônsul Marciano a sair nua pelas ruas rogou a nação: "Senhor, Vós que cobris os céus de nuvens..." protetora das borrascas, das trovoadas, mas também padroeira dos pedreiros, dos artilheiros e dos mineiros. A tarja que encima o trono representa a Arca de Noé e a pomba da Paz, ladeada por dois serafins. O piso da capela-mor é um soalho de campas, e é relativamente recente a instalação de um pequeno museu, reunindo obras e peças relativas ao Aleijadinho, em local secundário da igreja. Em conclusão: a plenitude do barroco setecentista dá-nos talvez uma sensação de forças contraditórias, na grande e poderosa ilusão do Barroco. Lourival Gomes Machado, que escreveu páginas magistrais sobre o Barroco Mineiro, falou longamente sobre a igreja de Antônio Dias, exemplar de eleição disse: "Só se chega ao barroco mergulhando nele, ou melhor, deixando que ele submerja o espectador".
Chafarizes
No período colonial o abastecimento de água sempre foi um problema, principalmente nas cidades mais importantes. Em regiões de serra como Minas, havia grande abundância de nascentes, de "olhos d'água" o que dava em algumas residências a facilidade do abastecimento doméstico. Mas, de modo geral, os governantes se preocuparam com o abastecimento público. Daí as fontes públicas, ou chafarizes, onde se vinham abastecer os escravos, com vasilhame que carregavam sobre as cabeças, segundo a antiga tradição portuguesa medieval: a água, canalizada para uma construção, distribuída por bicas ou carrancas, jorrando noite e dia e recolhidas num tanque. Serviam também como bebedouro de animais. Essas construções consistiam, geralmente, em composição arquitetônica, ao sabor da imaginação dos construtores, executadas em alvenaria de pedra, e por vezes assumindo proporções consideráveis. Eram localizadas nos pontos de maior aglomeração, dentro do espírito barroco da época. As cidades coloniais possuíam numerosos monumentos para esse fim, uma vez que não existia canalizações urbanas, nem para água nem para esgotos. O problema dos dejetos domésticos era resolvido pelos escravos, transportando na cabeça os barris ou "tigres", levados a despejar em sítios afastados. Voltando aos chafarizes, a água chegava a eles canalizada dos mananciais ora em telhas ajustadas, ora em alcatruzes, ou sejam, manilhas em pedra-sabão. Havia, ao todo, 18 chafarizes em Ouro Preto.
Chafariz da BarraChafariz da ColunaChafariz da Igreja de Antônio DiasChafariz da Praça TiradentesChafariz da Rua Barão de Ouro BrancoChafariz da Rua da GlóriaCahfariz da Rua das CabeçasChafariz da Rua das FloresChafariz das Águas FérreasChafariz das LagesChafariz do Alto das CabeçasChafariz do Alto da CruzChafariz do Largo de MaríliaChafariz do Largo Frei Vicente BotelhoChafariz do Passo de Antônio DiasChafariz do PilarChafariz do RosárioChafariz dos Contos
Pontes
A cidade de Ouro Preto está assentada nos contrafortes da vertente ocidental da Serra do Espinhaço, dominada pelo pico do Itacolomi. O recorte caprichoso e tumultuado das montanhas, combinado com uma topografia essencialmente "barroca", com largas ondulações, das quais emerge aqui e ali uma colina, propícia para pôr em destaque os monumentos, isolados ou em grupos. As encostas abrem-se em vincos profundos abertos na rocha colorida, cujos tons de ocre, rosa e cinza rasgam-se de sombras, interrompem-se com o verde gríseo da vegetação rasteira dominadas pelo azul do céu. É toda uma sinfonia cromática em tom menor, feita de melancolia e soberba. A cidade ocupa o fundo de quatro grandes vales, ligados por nove grandes pontes, que estabelecem ligação entre ruas íngremes e ondulantes, esposando a topografia acidentada. Lembra as cidades do norte de Portugal, presas ao solo, vinculadas a ele e beirando sempre a água. Os rios serpeiam pelo vale, em curvas caprichosas. Outras onze pontes menores interligam o conjunto geral urbano. Os primitivos grupos de povoação foram descendo em direção aos rios, onde se ia batear o outro. Uma cruz ergue-se, via de regra, no meio das pontes e, em maio, um coro de devotos organiza o Ofício, da Santa Cruz, seguido de festas, com música, iluminação, fogos de artifício e... muito amendoim. Como participam do festejo os vendedores dos grãozinhos torrados, os estudantes, irreverentes, deram-lhe o nome de Festa do Amendoim. Essa tradição, pouco a pouco vai desaparecendo. O local escolhido é a ponte de Antônio Dias e a data habitual é 3 de maio. As pontes de Ouro Preto foram solidamente construídas por homens que traziam de Portugal as velhas tradições do "pontifix" romano. Os grandes arcos de alvenaria de pedra cuidadosamente argamassada e impermeabilizada com breu, galgam o vinco profundo de rios e torrentes, permitindo a livre circulação por toda a cidade. Sempre elevadas, essas pontes são protegidas contra as cheias e assentadas em sólidos e profundos alicerces. São também sítio de repouso, devaneio e namoro, providas de bancos e, como geralmente dominam um vale, entre construções, fornecem aos artistas um local panorâmico, propício a plantar o cavalete, ao turista para fazer uma fotografia, ao poeta para debruçar-se e sonhar ao marulho das águas, o que nem sempre é possível, pois o rio secou.
Ponte da BarraPonte do Antônio DiasPonte do FunilPonte do Padre FariaPonte do Palácio VelhoPonte do PilarPonte do RosárioPonte dos ContosPonte Seca
Nenhum comentário:
Postar um comentário